terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Crianças amadas sabem o que é limite, afirma o educador Walter Tabacniks, da Eduque pelo Afeto


Limites podem ser ensinados de forma amorosa e duradoura, explica o pesquisador

Construir relações saudáveis é algo que todos desejamos e o primeiro passo está em formar isso desde os primeiros anos de vida; um passo importante é mostrar às crianças a partir dos primeiros deslocamentos a importância dos limites de cada um, das situações até para ousar crescer além deles. Quem afirma isso é o educador Walter Tabacniks, criador da consultoria paulistana Eduque pelo Afeto, focada em relacionamentos tanto na esfera familiar, pessoal quanto corporativa.

“O limite auxilia o indivíduo a entender seu mundo, traz segurança e mesmo que se queira ir além dele vale como balizador de entendimento”, diz o pesquisador. Um exemplo é mostrar o limite para uma criança na primeira infância (de zero a seis anos) na forma afetuosa da percepção dela em relação aos familiares: ela entende a importância de si mesma na família, e de cada membro como elemento que a faz feliz, a protege e portanto tem uma esfera de participação conforme a circunstância. “A criança sabe que pode contar com o pai, mãe, irmãos, avós e isso traz a ela segurança, pois é como se isso definisse seu campo de atuação amorosa”, exemplifica o consultor.

Às vezes, o estabelecimento dos limites de uma forma agradável e amorosa é uma questão que confunde as pessoas. Walter explica que é totalmente viável ser firme e amoroso, pois ambos pontos não se excluem. “A criança que é conduzida para dormir num determinado horário de forma natural, sem coerção, começa a criar para si um ritmo, um parâmetro que é seu limite intuitivo. Ela sente o cansaço do dia e naquele horário determinado entende que vai descansar com a participação de um ou ambos pais numa espécie de “ritual do sono” (carinho, contar histórias etc) e acaba por assimilar tudo isso numa autodisciplina que se solidifica na segunda infância (de sete a dez anos). Eis que ela poderá propor seu momento de dormir, sabe que será acalentada por isso, tem a segurança de seu ambiente e seu hábito instalado. No entanto, para que isso aconteça, é preciso plantar esta atitude desde cedo, com os pais acompanhando este processo e assim definindo este limite sem forçar. Uma criança que tem dificuldade para dormir precisa ter um dia ativo e vir para a cama com o carinho e firmeza dos pais para que descanse e entenda que logo virá outro dia tão bom e gostoso como o que termina com seu soninho”, diz Tabacniks, que sempre sugere um “ritual do sono” pessoal. Há diversos métodos, que vão desde contar histórias até desenhar em lousas, contar estrelas no céu – vai depender do interesse da criança. Tabacniks ressalta que este momento é o mais importante e precisa haver grande sintonia de interesses.

Limites estabelecidos na infância ajudam a formar uma autodisciplina na adolescência – mesmo com a rebeldia natural da época. O pesquisador, graduado pela USP e dedicado ao tema há mais de uma década, percebe que o próprio jovem tem as ferramentas para saber se está indo longe demais ou não. “Um adolescente que resolve experimentar uma atividade física e se empolga numa academia querendo transformar seu corpo rapidamente pode se descontrolar se não tiver uma percepção de si e de seus limites físicos; o contrário disso é quando o jovem entende suas necessidades físicas, sua vontade e transporta seu senso de imediatismo num parâmetro de adequação para si. Daí que, por mais que ele ou ela queira uma transformação inviável (o sonho), vai entender o senso de tempo e espaço, medir os passos para atingir objetivos, gerando menor ansiedade do que quem não conhece limites e acha que tudo pode desrespeitando a si mesmo”, exemplifica o pesquisador.

Os estudos da Eduque pelo Afeto têm mostrado que esta abordagem de limites desde cedo traz resultados duradouros que auxiliam inclusive nas relações de inteligência emocional da vida adulta, tanto no contexto pessoal quanto corporativo. A pesquisadora Suyen Miranda, também graduada pela USP e integrante da Eduque pelo Afeto nos temas corporativos e coaching, apresenta a questão do limite como fundamental para relações saudáveis e permanentes na vida adulta. “Maior tolerância consigo mesmo e com os outros, entendimento de necessidades e empatia, colocando-se no lugar da outra pessoa e autoestima consciente são elementos que partem justamente da percepção dos limites nos primeiros anos de vida. Quanto melhor for esta semeadura na infância, mais fortes os frutos na adolescência e na maturidade”, finaliza a pesquisadora.

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